por Arthur Gonçalves*
Há um novo divisor de águas no ambiente corporativo brasileiro: a segurança digital deixou de ser um custo técnico para se tornar vetor de diferenciação competitiva. Em um país com mais de 160 milhões de usuários conectados, onde mais de 90% do tráfego digital ocorre via dispositivos móveis, a percepção de risco cibernético já está moldando decisões de consumo, investimentos e até fusões e aquisições. As empresas que melhor compreenderem que este é o momento de investirem em suas redes terão vantagens competitivas relevantes.
Para comprovar essa tese, trago dados que a Asper acaba de compilar. De acordo com pesquisa junto aos nossos clientes e parceiros, o número de ataques com impacto operacional relevante em empresas brasileiras cresceu 118% entre 2021 e 2024. Ou seja, mais que dobrou em pouco mais de três anos a chance de um ataque hacker derrubar sua rede e abalar todo o planejamento estratégico de sua companhia. Por outro lado, o que ainda mais me preocupa é que, paradoxalmente, apenas 17% das empresas possuem um SOC (Security Operations Center) interno funcional ou contratam MSSPs (Managed Security Service Providers) com SLA real de resposta em incidentes. Isso significa que, enquanto a superfície de ataque cresce exponencialmente com a digitalização, a maturidade de defesa ainda engatinha.
O mercado já entendeu que proteção digital virou critério para valuation: empresas com boa governança em segurança têm múltiplos até 30% superiores em processos de M&A, segundo um levantamento exclusivo feito com assessores financeiros de transações acima de R$ 500 milhões. Essa dissonância tem implicações estratégicas sérias. Uma pesquisa global da consultoria internacional EY (anteriormente Ernest & Young) mostra que, no Brasil, 41% dos CEOs apontam a cibersegurança como risco prioritário — 12 pontos acima da média global. Mas, se entendem essa relevância por que investem menos que a média para se protegerem?
Mais que uma blindagem, a cibersegurança está emergindo como habilitadora de inovação. Em ambientes protegidos, times se sentem mais livres para experimentar, iterar e acelerar o ciclo de inovação digital. Organizações com práticas avançadas de segurança lançam produtos 36% mais rápido, em média, do que aquelas com maturidade baixa, de acordo com benchmarks conduzidos com nossos próprios clientes.
No Brasil, onde a digitalização foi acelerada sem o mesmo avanço estrutural na cultura de segurança, o desafio é mais profundo: apenas 3% das empresas têm programas contínuos de simulação de ataques reais (red teaming) ou gestão ativa de vulnerabilidades. Isso cria um vácuo perigoso — e uma oportunidade para as líderes do futuro. Sem falar de um ambiente propício para ataques.
A LGPD foi um marco, mas é apenas o ponto de partida. O novo diferencial competitivo está na capacidade de integrar segurança ao modelo de negócio: proteger dados, mas também projetar confiança, atrair investidores com compliance sólido e gerar receita por meio da diferenciação reputacional.
Se antes o bordão era “dados são o novo petróleo”, agora o imperativo é claro: “dados seguros são o novo diferencial competitivo”. Em tempos de IA generativa, cloud-first e guerra cibernética entre Estados-nação, empresas que não colocarem a segurança no centro de sua estratégia estarão, inevitavelmente, à margem do futuro e sempre como primeiras candidatas a verem seus dados virarem fumaça.
*Arthur Gonçalves é CEO da Asper, a maior empresa de cibersegurança da América Latina, com atuação nos principais estados e empresas do país, escritório em Nova Iorque e clientes globais na Europa e Austrália.